Carta para o amigo Paulo Rios

Caro amigo Paulo Rios,

Faltou, companheiro, aquele último abraço, aquele último brinde com uma cerveja gelada, faltou a última reunião do CAAL! Faltou principalmente a tua figura singular a apontar os caminhos das lutas político-existenciais! Parece-me, camarada, que faltou tudo neste triste dia de tua partida!

Minhas palavras simples, camarada, neste dia triste, serão ditadas pelas memórias, dada que escrita no momento da perda! Poderíamos ter ainda mais um dia exemplar de lutas e ações, no qual, debatíamos as estratégias, os panfletos e a estrutura para a jornada de ações. Lembro agora, dentre outros, das ações e atos quer fossem na rotatória de entrada da UEMA ou pelas ruas no Centro de São Luís! E depois do dia fatigante, a reunião ao final do dia, depois da avaliação, onde, entre sorrisos, críticas, algumas vezes decepção, deixávamos mais uma vez fazer valer aquela boa luta que se trava com companheiros de garra! Amiúde, entre essas celebrações amistosas brotava a piada, o chiste, ocupado muitas das vezes o centro a figura do “indelével Reitor”, dentre outras figuras folclóricas.

E tu era essa figura ímpar, geralmente na vanguarda das lutas, dada a tua militância histórica na UFMA, no SINTRAJUFE (que te colocou como figura nacional), no movimento da educação no Maranhão em suas diversas facetas, na UEMA. És respeitado justamente por esta militância e pelos valores democráticos e socialistas que defendeste ao longo de tua vida, pagando algumas vezes um preço alto por isso. Mas mesmos teus adversários hão de reconhecer que jamais sucumbiste ao status quo, como muitos outros, que sucumbiram ao comodismo e oportunismo travestidos de política real e governabilidade, para satisfazer as mentes mais fracas.

Tu enfrentaste uma política tacanha, onde senhores de engenho se viram como respeitáveis empresários liberais, justiceiros se transformam em agentes estatais, em que Donanas se fizeram governadoras. E foste alvo deste mandonismo muitas vezes. Mas a tua garra e convicções te fizeram este ser inabalável porque não eras guiado por interesses mesquinhos, porém por ideias e valores que muitos renegam ou acham árduo portá-los!

Um célebre dramaturgo alemão asseverava, em de seus pensamentos mais célebres, que existem aqueles que são imprescindíveis, pois estes lutam toda a vida. Eu ousaria, neste dia de profundo pesar, acrescentar que existem aqueles que são “insubstituíveis”, posto que a luta da vida inteira que efetivaram transcendem a sua morte física, continuando a influenciar seus amigos e companheiros de luta no futuro, fecundando-os com o sonho da esperança e utopia, palavras tão fora de moda neste mundo mesquinho! E tu foste assim, caro amigo! Teremos, como companheiros de luta, esse desafio de não negar a tua memória! Teremos o desafio de não te negar como insubstituível!

Retorno ao primeiro parágrafo e reitero o desejo de ter tido aquela última reunião do CAAL, onde, entre amigos e companheiros de luta (com Célia, Edward, Coelho, Waldemir, Manoel Caro, a compañera Silvana, dentre outros) poderíamos celebrar a tua presença, entre libações e sorrisos e libações, ocasião em que diríamos “sim” à luta e à vida!

Com esta lembrança, companheiro, despeço-me agora de ti! Mas que seja uma despedida acalorada pelas lembranças, pelo gosto da luta, pelos debates que ensinaram muito, pelo cultivo de valores inegociáveis em defesa da justiça, da igualdade e de melhores condições de existência! Tu serás a grata lembrança de que vale a pena lutar quando se tem coragem e valores!

De ti podemos repetir ao modo romano: Viveu!
Vá em paz, valoroso Companheiro!

Fábio Henrique Duarte

Palmas, 29/03/2024